Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

domingo, 6 de setembro de 2015

A suicida apaixonada pela vida


Todos os dias antes de dormir ela chorava todas as lágrimas que podia, e as que “não podia” também. Tudo isso era a forma que ela utilizava para aliviar tanta dor, tanta mágoa, tanto sofrimento que carregava dentro de si. Quando percebia seus olhos já em carne viva e retalhada, era o momento exato em que ela conseguia pegar no sono: exausta, aconchegava-se colocando o travesseiro na diagonal apoiando o lado esquerdo do rosto nele, enquanto enroscava-se no seu cobertor branco florido – nem mesmo o calor do verão de janeiro mudava o seu aconchego! Essa era a maneira dela de se teletransportar a outro universo, aliviada, buscando o descanso, a paz.
Um novo dia amanhece, e ela só desejava (como em todas as noites) que aquela vida terminasse ali! Ela apenas esperava o momento em que o seu fim chegaria; ansiava dormir, e nunca mais acordar... Não havia nenhum grandioso motivo, apenas queria que toda aquela dor cessasse! Gostaria de se livrar de tudo aquilo, apenas isso... Mas mais um dia começou, e o desejo do seu fim se dissipou com a luz do sol, e ela irá começar mais um longo dia.  
 Logo quando acorda se despe, armara o cabelo em um coque emaranhado no alto da cabeça, e lavava o rosto com a água fria da pia pequena e baixa do banheiro – ela adorava a maneira como a água tocava o seu rosto e escorria pelo seu colo... isso a aliviava.
 Em seguida, no contraste do primeiro passo, ligava o chuveiro e deixava com que a água quente escorresse pelo seu corpo, ponto de queimar sua pele machucada – mas esta era a sensação preferida dela, amava a maneira como o chuveiro velho que ficava dentro daquele box de porta quebrada no banheiro velho derramava água sobre o seu corpo; sentia sua alma sair do corpo por alguns instantes. Para muitos o pensamento “Deus me livre me banhar em um lugar assim” é comum, mas para ela aquilo era suficiente, e ela amava!
 Se envolvia na sua toalha cor de rosa furada, e caminhava até a cozinha, onde pega a sua caneca de porcelana branca, enche com leite quente e seu achocolatado preferido – aquilo, com certeza, era um dos maiores prazeres dela.
 Após, cobria todo o seu corpo com um creme de marca barata, mas com um perfume adorável que ela gostava; vestia-se e finalizava usando um dos seus batons escuros (ela sempre usava um de seus batons escuros), e com certeza, usar aqueles batons era uma das coisas que ela mais gostava – talvez fosse a única coisa que lhe desse coragem para se olhar ao espelho, ao menos duas vezes ao dia – e saia para o trabalho.
 Antes de chegar ao portão verde enferrujado de sua casa, emboscava seus dedos na cauda peluda da sua gata preta e branca, e recebia uma lambida melada da sua cadela velhinha de pelos cinza e branco – e isso há deixava bem, se sentia amada!
 Subia no ônibus e cumprimentava o motorista: um senhor de cabelos brancos e um bigode que lhe fazia lembrar um daqueles português, dono de padaria daqueles problemas de livros de matemática do fundamental. Dentre tantas pessoas ali, só tinha olhos para o céu que a acompanhava pelo lado de fora da janela daquele coletivo – e ela amava a maneira como o lua, em plena luz do dia a seguia por todo o caminho.
 Descia. Andava um médio percurso por uma rua feia e um tanto assustadora.
 Ao chegar no seu local de trabalho, sempre dava “bom dia” pro simpático porteiro que sempre usava azul (ela gostava da maneira como ele sorria, mesmo com seus dentes amarelados), e sorria para a senhora da limpeza que tinha um rosto cansado, mas sempre sorria carinhosamente quando via agarota na frente dos sete lances de escada que ela subia para chegar a sua sala – e ela gostava disso, gostava desta gente simples com sorrisos aconchegantes!
 Abria a porta, e ali, se punha submersa entre os documentos e fazia todo o seu serviço sem sessar, até que batesse o relógio.
 Saia dali, lia alguns livros, estudava um bocado, e retornava para o seu casebre – longe de tudo, mas onde guardava o seu quarto cor de rosa, e ela amava aquilo tudo!
 Deitava-se, e então, dentro de segundos toda a dor, mágoa, angústia... tudo aquilo voltava! E a cada dia com mais força! E toda a história se repete por mais outros dias...
 Jamais vi alguém tão apaixonado pela vida quanto aquela garota que rezava para a morte todas as noites...

~ Tamires Stefani.



 
Traduzido Por: Template Para Blogspot